sábado, 23 de janeiro de 2016

A vida é como musgo
que toma os telhados sólidos que construímos.
Asquerosa e potente, fluida e encharcada,
habitando nossos desertos como incansável orvalho
em dias de colheita.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Helmet

I thought life could be measured in speed
And the dust would only kindly paint me
In the colors of courage and the need
Of running away from any moments of draping.

Grateful for being naked and free
I could count on the grit of escaping
As if wings would be given to me
Whenever I needed to be lonely and safe.

Safety was made out of velocity
And an independence I now see as slavery
Believing the sum of miles driven by
Would measure my will and bravery.

I now want to build myself a helmet
As a placebo to no longer feel
The anxiety and pain of survivance
On a road not imaginary or real.

Terrified by my lack of control
I now choose to shut myself down
I will build myself a helmet
As a symbol of a nobody´s crown.

domingo, 22 de setembro de 2013

Poema inacabado (não é tudo?)

Passa tempo
Passo a vez
E o passado
A passos largos
Vai passando também.

Pousa aqui
Um passarinho
Passageiro de mim
Que passeia em meu corpo
E não pesa.

Fica comigo, passarin
Que juntos, nós ficamos
Em paz.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

outros juízos

Passarinho voando solo
Sobrevive à ventania?

E se voássemos todos juntos
Ainda saberíamos dos caminhos que planejamos antes?
Há espaço para quantos em um bando
Se abaixo nos enxergam como um?
E quantos pousos ainda existem
Antes daquele que nos fará desistir?

Nos dias frios é tão fácil acreditar
Que nem vemos as questões que caem
Vagarosas como penas

sábado, 5 de janeiro de 2013

Futuro

Eu sonhei que dois cavalos brigavam. Apoiados apenas pelas patas traseiras, eles mantinham as da frente no ar e se davam chutes violentos enquanto relinchavam de raiva e dor. Ficaram nessa luta por muito, muito mais tempo que qualquer cavalo teria interesse em lutar e conseguiram se manter sem tocar o chão nem mesmo uma vez. Aí, de repente, os cavalos viraram árvores e uma árvore sumiu.

Então eu sonhei que a árvore remanescente deu brotos que pareciam querer se tornar flores suaves como as flores que dali se esperaria, mas que nasceram em forma de estrela. E os pássaros que bicavam as estrelas em pétalas que desconheciam naquele jardim descobriram se tratar de doces alucinógenos. E foram chegando, pouco a pouco, multidões de pássaros interessados em sugar os pólens diversos que a loucura poderia trazer.

Até que, de tanto aprender sobre do que gostam os pássaros, a árvore aprendeu também a voar. E no sonho ela foi embora, deixando só grossas raízes podres naquele chão de escassos sais.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Polpa

Tudo aquilo que pulsa é polpa.
Semente não amolece nem se apalpa,
Casca só protege e cicatriza.

Na polpa está o suco que te suga
E sangra sem querer.
Na polpa o segredo é guardado
Para aos poucos derreter.
Na polpa está o gosto que te suja
E vai te tornando polpa também.
Na polpa cada fiapo de incômodo
É a lembrança da outra polpa que se tem.

À polpa não se morde,
Morde-se a casca só para romper.
Mas quando a língua já apalpa o que queria,
Toda a fuga do desejo que emergia
Vira caldo doce de culpa e de prazer.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Se as meninas ainda fossem

Se eu fosse explicar para vocês
Sobre vocês
Eu diria que o que era uma vez
Não pode ser mais.
Que a vida é piscina sem beira,
Tsunami sem duna de areia,
Oceano sem refúgio no cais.
E que de tanto fazermos de conta
Acreditamos que daríamos conta
De socorrer tudo aquilo que jaz.
E que havia para tudo sentido,
Bastava treinar o ouvido
E o caos soaria em paz.
Mas nos lembrando que era só fantasia,
A morte vem sem revés
Fingíamos ouvir melodia
Sabendo que a vida era jazz.

Mas se vocês estivessem ouvindo,
Não me deixariam continuar
E num instante eu entenderia
O poder de podermos brincar.
Voltaríamos com a água pro lago,
Repetiríamos o último afago
E até saberíamos voar.
Mas se ainda assim nos molhassem
Faríamos com que concordassem
Que bastava sol pra secar.
Vocês seriam bonecas de pano
Penduradas por um pregador
E teria sido um engano
Todos aqueles momentos de horror.
Tiraríamos todas as pedras
Para encher a mata de trilhas
E se viessem bombeirinhos de chumbo
Resgatariam a mãe e as filhas.